Lapostolle e La bodega Clos Apalta
Lapostolle foi fundada em 1994 à partir de uma história bastante interessante. Alexandra Marnier, herdeira do melhor e mais famoso império de licores do mundo, sonhava em plantar uvas e produzir seus próprios vinhos. Sabedora de que na França não poderia ter liberdade de criar, plantar, sentir, esperar, colher, misturar e degustar o melhor de sua criação, devido à forte regulamentação. Para isso, ela e seu marido, Cyril de Bournet, membro da família Marnier – Lapostolle, sétima geração da tradicional família produtora de vinhos e licores, arrumaram as malas rumo ao Chile. A família mantém ali sua tradição e absoluto compromisso com a qualidade.
Os antigos vinhedos foram gradativamente incorporando as cepas mais espetaculares que puderam selecionar, renovar e por que não, “paparicar”.
A Lapostolle possui 370 hectares em três vinhedos diferentes nos vales de Casablanca, Cachapoal e, claro, Colchagua. Produz um total de 200.000 caixas entre Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Merlot, Carmenére e Syrah. Cada garrafa é resultado da irrepreensível combinação entre o grande terroir do Chile e a rigoroso experiência e tradição da França. O resultado não poderia ser nada menos do que espetacular, seus principais e renomados títulos são o Borobo e Clos Apalta.
Ambos são produzidos no vale do Colchagua, no entanto o Borobo na Lapostolle e a La bodega Clos Apalta se dedica unicamente a produção do título que leva seu nome.
Do Clos Apalta são produzidas 60.000 garrafas por ano. O vinho é um assemblage, com15% de Cabernet Sauvignon, 16% Merlot e 69% Carmenére, que é a grande redescoberta do Chile. Sem dúvida, é um dos melhores e mais premiados vinhos da América do Sul. Tamanha é sua importância que ele não é produzido todos os anos, somente as melhores safras são dedicadas a ele e, quando produzidos, sua pequena produção é disputada por todo o mundo do vinho.
Em uma única garrafa de Clos Apalta, elegante e muito preciso, encontramos uma cor preta e um profundo vermelho escuro, no nariz a complexidade das frutas vermelhas, figo seco, blueberries, tudo com uma leve pitada de pimenta preta e a suave docilidade da baunilha. Na boca encontramos uma grande estrutura, com ricos e presentes taninos mas de acidez moderada, apresenta notas de chocolate amargo e a longevidade de seu gosto vai até o final.
Este ícone harmoniza intensamente com a untuosidade das caças e pimentas são bem vindas para completar seu paladar. Se você pensar em apresentar um elegante magret não pense duas vezes, a harmonização será perfeita.
Não é à toa que a família reserva em sua linda adega “subterrânea”, digna de aplausos com seu desenho inovador, surpreendentes 6.000 garrafas que nunca poderemos conhecer seus conteúdos mas que dá para ter uma ideia ah isso dá.
Quanto à vinícola Clos Apalta, é realmente linda, com a forma de uma barrica, uma linda barrica de carvalho francês que dá a sensação de estar mergulhada em seus líquidos. Os detalhes são incríveis, durante todo um ciclo, o sol foi precisamente observado e a cada posição exata das fases de produção das uvas foi registrada. Plantio, floração, poda, maturação e colheita, resultando no encantador “relógio das estações”.
E não é apenas atração turística não, é realmente usado para tomada de decisões importantes na elaboração do vinho.
Não sei exatamente precisar porquê, mas a física faz parte da família podemos, por exemplo, encontrar uma representação do Pêndulo de Foucault que indica exatamente o centro gravitacional da bodega. Ele foi a base para a construção da estrutura circular e longilínea da bodega que possui 6 níveis com cerca de 25m de profundidade o que permite que seu processo seja todo por gravidade. Sabiamente, cada um de seus espaços foi planejado para o maior aproveitamento da luminosidade e temperaturas necessários para o bom desenvolvimento da obra.
A vinícola se dedica a uma forma especial de manejo, totalmente orgânico e biodinâmico.
Cada um de seus níveis foi projetado para uma específica tarefa. De seus 6 níveis apenas um esta acima do nível da terra, dedicado ao mirante e ao relógio das estações, no nível da terra temos a recepção das frutas onde a seleção acontece de forma manual. Olhos e destreza humanos são os responsáveis pelo descarte de tudo o que não seja perfeito para o processo produtivo. Por meio da gravidade, as uvas são literalmente lançadas ao próximo nível, onde naturalmente se inicia o processo de esmagamento das uvas e, uma vez acomodadas silenciosamente em seus tonéis serão mecanicamente “pisadas”.
Esse processo é repetido de hora em hora, cuidadosamente. A “pisa” mecânica permite a maceração das uvas sem comprometer a integridade das sementes o que poderia trazer taninos indesejáveis e acidez acima do esperado.
Novamente por meio da gravidade atingem o próximo nível onde passarão seu primeiro ano de elaboração: a fermentação. Sucessivamente ao próximo nível para mais um ano, agora de total escuridão, frieza e solidão: a maturação. Esta é a fase onde o vinho adquirirá personalidade para então, pronto, repousar em barricas de carvalho francês meses e meses até que atinja o auge: cor intensa, aromas marcantes e um sabor... dos deuses.
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